Psicologia em Copas do Mundo

Psicólogo não ganha jogo, não dribla ou faz falta, mas cada vez mais em tempos atuais tem sua importância na otimização da prática esportiva a nível profissional reconhecida, embora existam poucas vozes que ainda insistam no contrário.

E estando às portas da Copa do Mundo de Futebol, onde de forma certeira o tema virá tona, temos a feliz surpresa de que a presença de um Psicólogo do Esporte atuando na Seleção Brasileira Masculina data de um não tão recente ano de 1958, na Copa da Suécia. E o melhor, logo em nosso primeiro título, sendo ainda a primeira vez que uma seleção ganhou fora de seu continente.

O Psicólogo então contratado era o Sr. João Carvalhaes, que nas palavras de Nilton Santos, assim teve seu trabalho definido: “Aprendemos com ele como entrar em campo sorrindo”. Ou seja, assim como hoje, a presença no Psicólogo não trouxe busca a vitória, mas sim um meio saudável de encarar a competição, que esteja de acordo com a realidade do cenário e dos indivíduos.

Explica-se: além da perda de Copa de 1954 na Suíça, o Brasil, em seu “Complexo de vira-latas” (Nélson Rodrigues), ainda lambia sua profunda ferida decorrente da perda da Copa de 1950, para o Uruguai, em casa, no episódio que ficou conhecido como “Maracanazo”. Úlcera essa que junto ao silêncio mais ensurdecedor da história marcou uma geração, a ponto do goleiro Barbosa, autor de uma falha na final, dizer: “No Brasil, a pena máxima é de 30 anos, mas pago há 40 anos por um crime que não cometi”.

Portanto, o Brasil ganhou e perdeu copas com a presença do Psicólogo, mas foi com a presença do Psicólogo do Esporte que o Brasil trilhou o caminho de seu primeiro título, de uma forma tão marcante, que somente poderia ter sido feita, sorrindo.

Em tempo, a seleção brasileira que está no Catar, não possui Psicólogo em sua equipe profissional, embora durante os últimos quatro anos tenham ocorridos trabalhos esporádicos no grupo e um discurso de valorização da saúde mental, muito mais focado no acompanhamento clínico individual que alguns atletas procuram. Como justificativa, o técnico disse que não haveria tempo hábil para que o profissional criasse vínculo com os jogadores, sendo assim, de acordo com sua visão, pouco frutífera sua presença.

Eduardo Mendes – Bacharel em Psicologia e em formação em Psicologia do Esporte.

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Conheça a Terapia do Esquema

A Terapia do Esquema é uma abordagem desenvolvida por Jeffrey Young em meados da década de 1990. Ela é considerada uma evolução das terapias cognitivas, voltada para o atendimento de pacientes com transtornos de personalidade, pacientes refratários e resistentes ao tratamento. Trata-se de uma abordagem estruturada, integrativa e sistemática, que oferece uma base consistente de atuação ao profissional.

Seu objeto de intervenção são os padrões de ações, percepções e sentimentos que surgem durante a infância e que se perpetuam como comportamentos desadaptativos ao longo da vida adulta. Nesse sentido, nomeados por esquemas, esses comportamentos são encontrados em um nível mais profundo da cognição, estando ligado a questões instintivas e inconscientes. O modelo identifica a trajetória desses esquemas com ênfase particular nos relacionamentos interpessoais do paciente. Usando o modelo, eles então, obtêm a capacidade de perceber os problemas caracterológicos como egodistônicos e, assim, se capacitar para abrir mão deles. No caso desses pacientes, as emoções e reações negativas se perpetuam sem que a pessoa perceba ou saiba de onde surgiram. Tais realidades geram esquemas rígidos e muito resistentes a modificações.

A Terapia do Esquema busca então atuar sobre as raízes desses sentimentos, por meio de técnicas emocionais, cognitivas e comportamentais. A prática tem demonstrado efetividade em problemas crônicos e resistentes a outras abordagens da Psicologia. Como os traços desadaptativos fazem parte da personalidade, é difícil que o paciente os perceba como aspectos negativos. Muitas vezes, os pacientes relatam entenderem, racionalmente, que não existem evidências para seus sentimentos e pensamentos persistirem, mas afirmam continuar sentindo alguma emoção. Nesses casos, a Terapia do Esquema é uma boa alternativa, pois aborda os sintomas mais profundamente, compreendendo as relações e proporcionando mudanças na estruturação psíquica, de forma empática e cuidadosa.

Ao fazer uso dela, o psicólogo tem condições de ser mais flexível e responder melhor às suas necessidades. Dessa forma, trabalha- se profundamente com dores mais antigas, de modo a resgatar necessidades não atendidas, assim, atendê-las e minimizar o sofrimento que causaram. Com isso, o objetivo da Terapia do Esquema é ajudar os pacientes a encontrar formas adaptativas de satisfazer suas necessidades emocionais fundamentais, auxiliando-o a aprender como: curar esquemas diminuindo a intensidade das memórias emocionais compreendendo o esquema e a intensidade das sensações corporais, e alterando os padrões cognitivos conectados ao esquema; substituir estilos e respostas de enfrentamento desadaptativos por padrões adaptativos de comportamento.

Fonte: Terapia do Esquema – guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Jeffrey E. Young. Editora Artmed. 2008.

Rakell Loures – Psicóloga

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Terapia no envelhecimento

Embora eu atenda adolescentes, adultos e idosos, não por acaso, tenho notado um aumento expressivo na quantidade de pacientes com mais de 60 anos que tem chegado ao consultório. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil será, até 2025, o sexto país do mundo em número de idosos. Por isso, é comum perceber não apenas a busca pela melhoria da qualidade de vida dessa parte da população, como também uma maior preocupação com a saúde mental dessa faixa etária, o que tem gerado, consequentemente, o crescimento da procura pela psicoterapia.

A partir da minha experiência em consultório, tenho notado que é muito comum que familiares procurem atendimento psicológico para seus parentes idosos a partir das mais diversas demandas, que vão desde a sensibilização em relação a diagnósticos bastante comuns na fase de envelhecimento como é o caso das Demências (especialmente a Doença de Alzheimer), do Parkinson, do Diabetes, entre outros, até relatos de Depressão causada pela perda de pessoas próximas.  

No entanto, se esses são os principais motivos da procura pela psicoterapia, no caso dos idosos, eles não são os únicos aspectos a serem tratados. A psicoterapia voltada para pacientes idosos pode ter objetivos bem mais amplos, como melhorar a qualidade de vida, de maneira geral; lidar com questões relacionadas à solidão e ao luto, quando é o caso; além de elaborar mudanças que podem gerar ansiedade e frustração, se não forem tratadas, como é o caso daquelas associadas aos papéis sociais e familiares ocupados pelo idoso.

“Me aposentei! E agora? O que vou fazer da vida? Aproveito minha aposentadoria sem culpa ou continuo trabalhando para complementar minha renda, mas na medida das minhas possibilidades? Será que consigo um trabalho com essa idade? ”; “Fiquei viúvo (a), não quero viver sozinho (a), mas também não quero morar com os meus filhos, gosto da minha casa! Como resolver esse impasse? ”; “Eu sempre quis viajar pelo mundo, agora que meus filhos são independentes e que não preciso mais trabalhar, vou realizar meu sonho! ”; “Me aposentei, mas ainda estou vivo (a)! Quero ter uma vida ativa: sair para me divertir com amigos (as), cursar a faculdade que eu não pude fazer quando era mais novo (a), fazer dança de salão, namorar. ”

Além desses aspectos, uma pessoa com mais de 60 anos pode ter sintomas e queixas relacionadas a outras questões que não o envelhecimento. As estruturas de personalidade não nos abandonam quando a idade avança e a psicoterapia é sempre eficaz nos mais diversos casos.

O atendimento psicoterápico, no caso dos idosos, como em todos os casos, visa a acolher e ajudar o paciente na elaboração de suas fragilidades e sofrimentos como também auxilia em seu autoconhecimento, ampliando, assim, sua percepção sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro, a partir de novas perspectivas.

Por Fabiana Moura – Psicóloga

Fonte:

Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Tradução Suzana Gontijo – Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), 2005.

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Terapia Cognitiva Pós-Racionalista

A Terapia Cognitiva Pós-Racionalista é um modelo psicoterápico proposto pelo psiquiatra italiano Vittorio Guidano, entre o final dos anos 80 e início dos 90 (séc. XX). Está entre as terapias cognitivas porque não concebe a mente como passiva, simples processadora de informações, percebe-a como ativa, capaz de organizar as experiências vividas não somente através de explicações cognitivas, mas também por meio das emoções e dos estilos afetivos, extraindo deles significados que darão origem à identidade dos sujeitos – por isso, é pós-racionalista.

Diferente do modelo cognitivo comportamental clássico, proposto por Aaron T. Beck, que pressupõe a existência de uma realidade única (objetiva), influenciando o cliente transformar suas crenças disfuncionais em crenças ditas adaptativas (modelo racionalista), a terapia cognitiva pós-racionalista concebe a realidade como pluridimensional e subjetiva, dá protagonismo ao cliente, propondo que ele mesmo realize a reconstrução de sua experiência imediata por meio da auto-observação. Quanto maior a consciência de si, melhor a organização da experiência imediata e maior a possibilidade de reorganização pessoal.

Principais conceitos:

Relação terapêutica: estabelecida entre terapeuta e cliente, por meio de bases afetivas e seguras, vai além da simples exploração pessoal.

Auto-observação: método em que o terapeuta conduz estrategicamente o cliente a reconstruir sua experiência imediata e, com isso, a se auto-oganizar.

Organização de Significado Pessoal (OSP): conceito criado a partir do vínculo estabelecido entre a criança e os pais (Bowlby – Teoria do Apego). Esse vínculo é o principal modelador da identidade pessoal do sujeito.

Para Guidano, existem quatro organizações de significado pessoal que darão sentido ao desenvolvimento emocional e à construção do Self. São as OSP’s depressiva, fóbica, obsessiva e de desordem alimentar (dap).

“Na OSP depressiva, a tonalidade emotiva relaciona-se com experiências que se caracterizam pela trama afetiva de abandono ou perda.”
“Na OSP fóbica, o padrão de apego é evitativo e a tonalidade emocional relaciona-se com o medo de não conseguir desempenhar o que se almeja.”
“Na OSP obsessiva, a tonalidade emotiva é dada pela dualidade e pelo padrão de apego ambivalente.”
“No caso da OSP dap, temos um padrão de apego ambivalente, produzindo como tonalidade emocional básica o medo de desagradar.”


Por Fabiana Moura – Psicóloga

Fonte:

LIMA A. T. ALVES, D. L. As Dimensões do Self na Terapia Cognitiva Pós- Racionalista.

Revista Brasileira de Psicoterapia, Porto Alegre, v. 22, n. 3, p. 81-93, mai 2020. Disponível em: http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=356 Acesso em: 16 fev. 2022.

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