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25 de janeiro de 2021

Sobre vitórias e vitórias

Passamos a vida toda correndo atrás dos grandes feitos, épicas conquistas que servirão de exemplo para futuras gerações e pelas quais seremos reconhecidos.

Mas e o caminho para o pote de ouro? Deixar de vivenciar ele em prol de algo longínquo e incerto, o que nos traz? E mais, será que nos reduzirmos, limitarmos nosso significado a busca por uma vitória específica, não significaria também uma mitigação do que poderíamos ser no decorrer do processo?

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Esse tipo de visão está demasiadamente presente em nossa sociedade, uma espécie de raso uso da famosa expressão “os fins justificam os meios”. Ela serve para justificar padrões que são dolorosos de serem modificados. Vitórias raras ganham status de heroísmo que fazem parecer que o sofrimento, as perdas no caminho, compensam tudo. Uma criança que consegue, contra todo o prognóstico futuro, chegar a uma profissão com alto retorno financeiro não deveria ser vista somente pela ótica do “trabalhe enquanto eles dormem”. Essa concepção é rasa demais para explicar, na verdade, qualificar, uma pessoa. Exceções que se afirmam pelo fim não devem ser vistas como padrões a serem seguidos, ainda mais quando reafirmam ataques ao desenvolvimento saudável.

As histórias dos que fracassam raramente servem. A serventia procede do que passa a mensagem que se um pode, todos podem, fornecendo a impressão de que basta querer, de que a culpa pela derrota é somente sua e que não importa o que se perde no processo.  É uma lacuna benéfica ao status quo, que deixa passar, na medida de um conta-gotas, algum pouco afortunado, para manter a esperança dos outros. Que atenta contra a saúde mental, ao mesmo tempo que reafirma a importância dela no processo.

Essa visão que deixa à margem experimentar o caminho, nega as várias possibilidades de sentir as conquistas do dia a dia, porque sempre existirá uma “grama do vizinho” aparentemente mais bonita, uma patológica excelência. O combustível para a vida deve estar além da gana pela típica vitória grandiosa, do controle excessivo na busca de um determinado fim, uma receita de bolo onde parece que todos possuem a mesma medida e que diminui a pessoa a somente seu trabalho.

Quando se perde muito no caminho, será que o que sobra consegue aproveitar o fruto de tanto esforço? Deixar de vivenciar emoções, perceber erros e acertos, experenciar as dores e os afagos do desenvolvimento com certeza não resultam em uma pessoa mais saudável, só, com sorte, em alguém conformado, que soterrou as próprias vontades e virtudes.

Eduardo Mendes – Consultor jurídico

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